quarta-feira, julho 11, 2007

Morre o transformista
Laura de Vison


A alegre noite carioca está de luto. Ícone do transformismo brasileiro, Laura de Vison morreu no último domingo, de insuficiência respiratória, por conseqüência de complicações decorrentes de uma cirurgia para tratamento de problemas de hérnia, realizada há oito meses. O enterro aconteceu na segunda-feira, às 14h, no cemitério de Inhaúma, no Rio.

O preconceito sempre fez parte da vida de Norberto Chucri David, carioca do Engenho de Dentro, filho de pais libaneses que comercializavam tecidos com a ajuda dos filhos Odete, Ivete, Humberto, Hoover e Norberto, que estudou na Faculdade Nacional de Filosofia com licenciatura em filosofia, psicologia e história. Durante muitos anos, Laura lecionou comportadíssima: cabelo penteado para trás, terno, gravata e uma cinta para diminuir o seio. Retrato de um profissional sério que, mesmo assim, enfrentou discriminações.

Tudo bem, Norberto nunca foi um professor convencional - um dia se vestiu de Cleópatra para explicar a história egípcia - mas amava a profissão. Quando os seios começaram a brotar, morto de vergonha, o menino disfarçava as formas protuberantes com blusas largas. Apesar disso, as crianças notavam:

- Elas faziam chacota com meus peitinhos e minhas pernas, que eram bem femininas.

Laura nunca mais subirá, poderosíssima, a escadaria que a levava ao estrelato no bar Boêmio, no Centro do Rio. Ali, foi aplaudida por turistas, antropólogos, sociólogos, atores, cantores e personalidades internacionais como o estilista Jean Paul Gaultier. Quando soube que Laura lecionava história e moral e cívica na rede pública, Gaultier ficou pasmo: "Interessante essa faceta dupla, isso não seria permitido pela moral francesa", disse o estilista, levado ao show pela equipe do ELA quando esteve no Rio de Janeiro.
Balde de água nos espectadores e êxtase nos xingamentos

Seus shows antológicos eram uma espécie de videoclipe. Quando interpretava "Súplica cearense", jogava um balde de água nos espectadores. Em "This is my life", se transformava numa enfermeira e comia fígado. Volta e meia rolava, absolutamente nua, por uma escada, assistida por até 600 pessoas:

- Uns sentiam aversão, outros amavam - diz Laura.

Em "O fantasma da ópera", comia o cérebro do fantasma: dois miolos crus, quase 300 gramas:

- Eu fazia essas coisas incorporando Laura. Em meu estado normal jamais seria capaz.

Nos shows, que duravam uma hora e meia, ela alternava sua coleção de quase cem vestidos - que iam do tradicional a trajes mais sexy como baby-dolls e espartilhos - 40 perucas coloridas, 50 sapatos e botas, chapéus e muita pluma, guardados no confortável dúplex da estrela, bem no coração da Glória.

- O público me xingava de tudo, atingindo o êxtase. Para mim também era um ato de libertação.

Comparada à americana Divine, Laura conta que só teve uma paixão na vida. Pelo professor Carneiro, de português. Tinha então 14 anos e pensava nele dia e noite:

- Adorava quando ele me chamava ao quadro-negro. Nunca mais tive um sentimento igual.


Desde então, sua vida foi uma busca desenfreada de prazeres. Relata que, numa noite de carnaval, chegou a ter relações sexuais 49 vezes:
- Sou muito volúvel, amo a vida e o prazer.

Laura fez muito sucesso nas décadas de 60, 70, 80 e 90 como transformista. Seu nome artístico surgiu ainda na década de 60, quando desfilava de biquíni e casaco de pele no Carnaval carioca. Até recentemente, Laura fazia shows na noite carioca em aparições festejadas.

O último trabalho de Laura foi a peça teatral "Dei a Elza em você", em 2006. No espetáculo, três drag-queens decadentes decidem montar um show com rapazes musculosos

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Laura de Vison saiu de cena no último domingo, 08 de julho. Uma das figuras mais originais da nossa cultura, nos deixou na madrugada. "Ela foi uma escola para muitas que passaram pelo Boêmio e o Cabaret Casanova, na Lapa, Rio de Janeiro. Antes de morrer, ele casou-se com sua empregada, para que ela ficasse com o seu apartamento e a pensão dele. Assim como Carmem Miranada e outras divas, ela ficará na eternidade.




segunda-feira, julho 09, 2007

Pierre et Gilles

Os artistas gays franceses Pierre Commoy (fotógrafo) e Gilles Blanchard (pintor) formam uma parceria artistica de longa data além de serem um par romantico. Após estudarem Artes os dois se mudaram para Paris em 1973 onde se conheceram em 1976 e comecaram a trabalhar juntos.
A dupla "Pierre et Gilles", como ficaram conhecidos, compõe uma obra instigante, ácida, marcada pelo diálogo com a cultura pop, atraves da producäo de fotografias altamente estilizadas. A obra mitiga influências arcaicas da cultura européia, tais como um catolicismo de louvação e sincretismos da cultura massificada. O pop, a cultura homoerótica (incluindo ai a cultura Porno), a publicidade, a banalidade da vida cotidiana, o kitsch e a prática do retrato são elementos recorrentes. Acabaram por tornarem-se ícones da arte gay.

Entre as diversas personalidades fotografadas pela dupla estäo: Marilyn Manson, Madonna, Kylie Minogue, Erasure, Deee-Lite, The Creatures, Nina Hagen, Naomi Campbell, Catherine Deneuve, Layke Anderson e Jean-Paul Gaultier.

Como uma espécie de consagracäo do sucesso da dupla, foi inaugurada , no último 26 de junho em Paris, uma vasta retrospectiva com mais de 120 obras.


Musée du Jeu de paume, site Concorde, de 26 junho a 23 setembor de 2007. E Galeria Jérôme de Noirmont, 38, avenue Matignon, 75008 Paris.